Viagem Delirante

Começo o diálogo sem tédio, a lucidez leva-me às arestas do corredor para observar as colinas, leio em folhas azuis o horário dos transportes nocturnos, os transportes imaginários. Esse diálogo é uma espiral aérea entre todas as vozes distantes – adjacentes às paredes areadas –, reflicto em páginas as marcas escritas de uma linguagem indecifrável. Entretanto

resta-me a respiração do lugar, esvaído em fumo, aterram objectos

continuamente. Espero pelo meu voo, pelas asas suspensas da partida. A vida passa como uma notícia à velocidade quase fotográfica

das imagens. E, no entanto, observo a sala: é o espaço aberto, o lume da abertura, um rasgo inicial ferido na pele. De facto, o afecto dos incêndios evolui até às colinas azuis num ombro aéreo. Há letras

ainda, para dizer ou explodir, os objectos misturam-se nesses dedos longilíneos. Ao cenário vão convergir os grandes cenários do sonho.

Quando

a respiração reflecte as personagens lívidas da noite, numa invocação de sílabas

registo em apontamentos o possível destino que não existe. A hora passa à velocidade quase instantânea das árvores ao vento das árvores

- sem sabermos. Os muros entranham-se na planície onde as letras quiseram sorver a cal, o branco dialéctico sem contrários, fluir à superfície após a viagem na profundeza do ar. Sejamos translúcidos: do que escrevo é da noite sem tédio, do périplo da serenidade, seguir o olhar na diluição desse mesmo olhar que margeia a realidade delirante. Sem sabermos.