Metáfora Real das Pálpebras

Continuar a escrever a noite – não haverá muito mais nessa noite, esta manhã de iluminações num declive pela sobriedade da tarde -, o que pode ser dito e sentido até ao amplo corpo onde a boca negligente respira, um bosque contíguo à fissura da neblina.

Não procuro simular outra paisagem,

um campo extremo para multiplicar o real. Simulo outro dia, o exemplo de um jardim de abetos percorrido pelo céu veloz que cobre as pálpebras.

Talvez, talvez a morte e o riso e o esquecimento a qualquer hora objectiva - onde compramos metáforas para sentir. Talvez,

não me preocupa nenhuma coerência – a coerência é demais -, escreve-me na pele asserções que nunca saiba decifrar, escreve.

Escreve-me com os dedos ou os lábios ou o sangue ou as unhas ou o ódio axiomas que a febre pronuncie: equações que não saberemos mais, mais que nomes negligentes, nomes de uma gramática de fissuras incrustadas às pálpebras da realidade múltipla.

Não haverá muito mais ao longo do dia,

na metáfora real das pálpebras.