Cadernos Azuis: do esquecimento

Não era possível acabar o poema ou a escrita depurada em cadernos azuis – longamente intenso o veio simulado sobre a moldura de um mundo mínimo. Intenso como o espaço por onde vai a indistinta sombra: um dia sem verdade, nenhuma verdade para adivinhar que o vento corre pela voz, o esquecimento útil em erguer os olhos perante o nada. Sei que nada perdura em definitivo, estas formas - o desenho das imagens que atravessam a noite – materializam a paisagem, ou o esquecimento, a passagem do ar, o ar limpo e as horas e a sombra e a sombra vaga de um esquecimento: o que se insinua sob as escarpas da luz para que pudesse perder o corpo silente das palavras, perder o sentido de um corpo que esteve próximo, reflicto ainda sobre a existência e o sentido, ou acerca da obsessão, a obsessão pela inteligibilidade dos caminhos abertos na penumbra, a obsessão por dissecar o sentido e anulá-lo da existência, o ruído do cascalho – a noite é uma viagem interior pelo asfalto - motivam-me interrogações inconsequentes - não sei argumentar a partir de premissas em que estou desamparado, mesmo os signos desta escrita verde são um logro, tudo e nada, tudo acontece num lugar de alusão, o que se insinua à luz preenchida de candeeiros aéreos, as flores têm nomes indecifráveis, os insectos brilham num lago longínquo de sombras perversas, os nomes diluem-se pelo interior do riso, mas preencho um caderno de apontamentos, letras absolutas na descrição de uma realidade suposta, a beleza que há em todas as ilusões, ainda não compreendemos como é necessário inventar sempre novas ilusões, conduzo pela estrada azul, dirijo-me a futuras pesquisas sem bússola e radar, sinto que tudo podia ser diferente, uma lâmina separa-me da invenção perfeita e dos atributos essenciais do nada, ou seja: um encantamento ecoa nas pedras pelo fim do dia, ao vento da folhagem diluída experimento os lábios finos da ironia; eu próprio escrevo em cadernos azuis palavras invisíveis: o tumulto dos lábios finos do esquecimento.