A você, Ilustre Desconhecido.

Te receberei essa tarde. Não sei como virás, se em cavalo ou liteira

Também não sei como estarei, pela metade ou inteira.

Meus olhos inflamam-se com o simples pensamento de que virás.

Sim, virá e não quero pensar que por uma hora ou duas somente.

Talvez você venha para ficar, talvez seja apenas para espiar meus pequenos segredos.

Pedacinhos de mim que consegui juntar ao longo do tempo.

Sei que sou crédula, inocente até, ao pensar que poderias ser meu Ulisses. Tolices.

(Tens um dragão tatuado no braço, como o menino do rio...aquele da canção).

Minha casa está de portas abertas para você, bem queria poder fechá-las para me proteger de algum mal que venha assolar meu coração, mas é tarde demais. Já estive presa na torre e agora a entrega é minha única redenção.

Vais me olhar com olhos verde mar, furta cor a me roubar o sossego. Vou te olhar com meu castanho querer e assim ficar por alguns segundos a decidir.

Te ofereço um suco gelado, alguns docinhos. Você recusa por educação. Fico sem graça, insisto e então aceitas.

Sentados ao redor da mesa na cozinha, falaremos brevemente sobre a vida ou o calor que arrebenta os miolos lá fora. Filhos, ex-mulher, ex-marido e até mesmo solidão.

Ao soletrar essa mágica palavra sentirei que tocas minha mão, daí vou estremecer e num milésimo de segundo terei de resolver se ficas ou não. Se trocamos de cômodo ou resistimos ao incômodo impasse.

Meu coração dispara, desejo que o telefone toque e quebre esse campo magnético que se formará.

Nada disso acontece, talvez você nem venha. Tomara...pois tenho medo.

Voando Alto
Enviado por Voando Alto em 11/09/2008
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