Auto-estrada

Apanhamos a auto-estrada à velocidade combinada, controlada por símbolos e não voltamos.

Convidados do destino, como o corpo na noite, não acreditamos no destino.

Entre frases noéticas, preferimos a verdade dos candeeiros, nenhuma outra verdade ilumina o risco do corpo.

À velocidade da luz, passam objectos pelos vidros nocturnos. Não fixamos nenhuma identidade, o programa tinha previsto a errância, nenhuma paragem nos aguarda.

E a noite caía sem obstáculos, os ciprestes, os pinheiros, os abetos na álea das estradas ao sair de sensações decoradas na melancolia, podia citar os lábios azuis dessa água - quando a reminiscência nas arestas da luz me prendem em filamentos duma memória, às descrições intermináveis entre frases noéticas com sentido. Caía a noite e as imagens. Símbolos herdados por cada riso de dentes alvos. Íamos pelo corredor do tempo, escrevendo paredes no firmamento branco de uma hora extrema. Hora extrema no delta da morte. Viagem veloz como o corpo na noite, os carros passam na busca de um desígnio, a solidão dos candeeiros erguidos numa neblina de escamas. Apanhamos a auto-estrada à velocidade combinada, convidados do destino, há estrelas nesta noite de um hálito lunar, vamos percorrer a navegação dos instantes e não voltamos. Construímos colunas na vigília e não voltamos, estendemos a toalha de pele, abrimos a porta ao ar, deslizamos pelos bosques marginais do insone desejo. Sempre na errância roxa dos vidros nos olhos. Não voltamos da noite interminável, nosso corpo veloz na auto-estrada - sem indicação de regresso.