Âmago
De manhã ao despedir-me de Hypnos, levantei-me e caminhei, ainda cambaleante em direção aos umbrais de meu quarto. No entanto antes de trespassá-los divisei que não mais se tratava de minha porta mas de uma estranha janela entalhada em madeira bruta. Inclusive vim a perceber que todo o meu quarto se transformara em um único rústico e inconfundível interior de árvore.
Bem - pensei com meus botões - simplesmente não acordei ainda.
E de fato ao dar o próximo passo no que seria a direção de minha porta me vi novamente em minha cama, virei-me de bruços e me vi em frente à tosca janela novamente.
Abrí-a.
E o que divisei foi um insondável oceano, onde vagava, nitidamente à deriva, um inofensivo barquinho à vela do qual pulou um homem de turbante que veio a caminhar sobre a água que não era mais água, mas sim a areia de um deserto deserto, e a grama de uma paragem extremamente fértil, e o lodo de um pântano escuro, enlamacento e ominoso, e flores de uma floresta subtropical ao sul do Congo, e as pedras de um castelo escocês, e uma miríade de outras coisas, que não eram senão outras coisas.
Que nada tinham a me dizer senão qualquer coisa que poderiam querer dizer-me.
Andei até a cama, deitei-me e desfaleci em sono.
Quando acordei já me podia considerar aquele que engendrara aquilo tudo e aquele que criara o que quer que fosse passível de criação:
Eu estava Morto.