Noite Elástica

Uma ave plana sob a cilada do verso, palavras ininteligíveis escritas em vogais nos jardins, a qualquer hora - quando os sonhos reflectem a noite límpida dos lábios em pétalas graves. Fomos adormecer as pedras ou seriam os cabelos eufóricos para adornar a vigília, eis, eis os dedos longos e

sinto a leveza do corpo, contemplas a sereníssima certeza dos insectos morrendo na luz, compro espelhos e neles fixo os canteiros eternos e verdadeiros e definitivos como então os olhos se desgastam em retiros outonais. Árvores enormes na solidão, Verlaine janta o silêncio submarino

em redor dos lagos fulminantes. Ao longe, do longe, insone riso translúcido entrecruzado na água que sempre existe, existe a colher da sopa nublada numa digestão de barcos íntimos que povoam os bosques. Munch nunca pintou um espaço branco, pintou a morte, a extremidade de cetim que se

acende nas veias. Depois iremos num dia de anéis perguntar pela penumbra do futuro, vestidos com a cor do ar, os braços perdidos no vento e essa profundidade atlântica do mar que passa próxima dos caminhos epistolares. Quando a descrição terminar ficaremos na praia em beijos

elásticos. Uma ave plana sobre os bosques, eis os lagos íntimos do teu corpo atlântico, árvores profundas povoam a morte e a claridade ou será o cetim em redor do rosto espelhado. Será a sereníssima escrita na cilada definitiva das veias. Fixo os insectos, repouso os olhos para respirar.

Quando a descrição exaustiva terminar, quando terminar – jantamos a noite imensa (podia dizer : profunda, presente, elástica).