Contemplação

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Grandes imagens – no presente cinematográfico –, a sala simultânea a um jardim, ouvir os átomos, um imperceptível som na voz concebida. A que hora nos dispomos ir para além do que vivemos? O momento desaparece, ficamos com o passado no vazio, amanhã sairemos de noite para lembrar as luzes acesas num postal ilustrado. Dizes: falam as árvores de mim, falam as aves pelos campos e o asfalto, colocar a memória num baloiço, com efeito: agitar o corpo ao vento dos olhos que passeiam.

Ainda a vocação do afecto, afecta a pele a pétala de um dia indiferente, indiferente para que de todos os gestos similares irrompa um brilho único que afague o sangue. A que horas teremos de estar em praias de um silêncio omnívoro que nos dilua? Explico: um silêncio absorto rasgado no espaço em que flutue a música marítima do essencial. Prefiro a noite, a sombra dos mastros na água, cair de bruços na respiração dum areal húmido.

Ainda.

Prefiro a noite, à noite, enquanto a neblina ascende em colunas impassíveis, perder a noção dos arredores, onde chove em redor de objectos ocultos. Os objectos, vejam a espuma delirante do real sem endereço. Mais além, nas margens do musgo da indiferença, ficamos nós suspensos na nossa inanidade. Que importa, qual a certeza que temos, antes sentir os navios imóveis no temporal, numa emoção oportuna que desgaste o friso comum dos lábios. Talvez, trocamos os ombros unidos.

Presente cinematográfico – pode-se imaginar. Acendem-se as luzes do real, fotografo o futuro, entregasse a memória à água imperceptível, quer dizer: deslizamento do que foi, vultos numerosos que passam na marginal entre sombras diluídas. E amanhã terei nos bolsos apontamentos autênticos, uma escrita subtil (útil) que me lembre onde se pode contemplar na noite a noite obstinadamente feliz. Me lembre em imagens como coser as hastes - repito palavras – da contemplação possível.

E amanhã terei nos bolsos

apontamentos impossíveis

que me lembrem.

E amanhã terei nos bolsos

apontamentos que me lembrem

o futuro.

... ... ... ... ... ... ... ... ...

... ... ... ... ... que me lembrem

o impossível.