APOCALIPSE

APOCALIPSE...

Calei-me. É o peso de viver deixando-me silenciosa. Há muito que os sonhos de menina jaz em berço esplêndido - mas ainda estão lá- escritos com fios de ouro no colossal diário dos céus. E netuno espia rindo com a boca escancarada,na alegria perversa da certeza das indesejadas das gentes - alimentando-o.

Palavrear seco? Ferem alma de poesia?

Coragem de viver. Coragem... faz com que eu queira ficar oculta. Necessito esconder o que precisa ficar oculto. Sonhar é ótimo, e melhor ainda quando em segredo- dá tempo de ensaiar o verdadeiro Eu que somos.

Somos - no crepúsculo da vida como carvalhos. Aliás esqueci que sou quase centenária. E da rosa faço prosa. Do fel o mel, com o qual eu adoço os lábios de quem desejo.

Continuo sozinha, combativa -guerreando com a solidão nossa de cada dia.E tendo que conviver com a eterna comédia humana - amores, ódios, ambições, paixões desencadeadas pela eterna luta dos indivíduos pela conquista de riquezas e de poder sobre os outros. Acabo de deixar registrado o porquê do mundo ser tão nu e cru. Há muito que não recebo rosas, esqueceram-me no tempo.

Sou demodê.

Todas as coisas algo têm de belo, mas nem todos os olhos sabem vê-lo, já ensinava Confúcio. Já é muito tarde -, a natureza se vinga em todo o planeta. É uma longa viagem ao desconhecido - e a entrada no que não se conhece -pode ser viagem sem volta.

Certa ocasião chamaram-me de maluca beleza que teima em ultrapassar devagarinho com passo de felina os limites da sua própria fragilidade de pequenez humana - numa tentativa de não sucumbir com as feras criaturas humanas.

Antes que venha o Apocalipse...

(Fátima Pessoa)

"...Sou como uma Flor campestre, simplória,

tímida e mística, no meio de uma multidão de

rosas nobres".

Poética
Enviado por Poética em 11/03/2006
Código do texto: T121641