Merecida redenção

Prólogo:

A originalidade foi comprovada no singelo presente que recebi: “Ora o DEUS de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo” (SIC) – (Romanos 15:13).

O meu dia nesta data tão significativa (8 de outubro de 2008) não foi, necessariamente, improdutivo. Foi um dia comum. Talvez pudesse ser considerado estéril se não fosse pelo telefonema de um cliente que me ligou para perguntar o número de minha conta corrente e em qual Banco deveria depositar os R$ 13.000,00 (treze mil reais) que me devia há mais de dezesseis dias.

À noite eu tinha um compromisso importantíssimo. Fui convidado para assistir a uma pregação de uma pastora, ainda desconhecida, em um templo religioso na cidade onde resido. Não houve o culto religioso. Fui avisado a tempo. Melhor, talvez, do que o culto, surpreendentemente, a minha casa foi iluminada com a visita da síntese da essência humana.

A acrisolada e querida que sempre soube valorizar sua independência, capacidade profissional e inteligência evoluída deu-me o ar de sua graça. Ela resolveu de inopino visitar-me. Sem preconceitos, Analu resplandeceu minha morada vestindo-se com sobriedade. Brincando e querendo cheirá-la com volúpia disse-lhe que estava “mais cheirosa do que mão de barbeiro”.

Agraciou-me com o esplendor de sua formosura, seu sorriso iluminado e cabelos enfeitados com uma linha tênue de brilhantes delicados. A alma feminina dessa minha notável ex-aluna necessita de amor e dedicação incondicional. Seria eu capaz de suprir essa paixão, fogueira sagrada da complexa concupiscência, que já ardia e se aguçava com o comburente mais adequado?

O olhar melífluo da menina-mulher dizia tudo: “Deixe rolar, relaxe”. As palavras inaudíveis saíram dos seus lábios sensuais para amenizar o eu atrapalhado e bobo com o supetão da gratificante visita. “Há cuecas espalhadas na sala?”. Não havia. Contudo, existiam duas gravatas, duas camisas, um paletó e inúmeros pequenos objetos sobre a mesa da sala de jantar.

O capacete – quando posso sou motoqueiro –, a jaqueta e dois travesseiros enfeavam a sala de estar em cujo centro se encontrava: livros, DVD, CD e um pequeno vaso com cascas de amendoim. Nada disso importava. A beleza do ambiente era a intensidade da energia positiva que a graciosidade da ilustre visitante irradiava.

Eu sempre soube de uma verdade. A sofisticação da mulher moderna é ressaltada com cores, tons e essências que deixa ela ainda mais bonita e atraente. A beleza de Analu é natural. Não gosta de usar batom, mas seus lábios estavam frescos, úmidos, com um brilho suave.

Os cabelos emitiam um tom caprichado e todo o corpo aspergia um perfume inebriante. Seus olhos refletiam luz benfazeja e de sua boca a doçura de renovada fé vitalizava minha força e crença na paz almejante.

“Ora o DEUS de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo” (SIC) – (Romanos 15:13).

A mensagem acima estava em uma cartela de cor laranja encapada por uma pequena cartolina amarela. Sobre a cartolina amarela uma colagem verde brilhante de uma rosa que emitia fulgores quando exposta à luz. Dessa arte singular emanava um aroma sutil como se quisesse dizer:

“Na simplicidade dessa lembrança sinta o perfume das mãos de fada que me confeccionou com ternura, numa exteriorização de sentimentos mais que um afeto brando e meiguice de quem se entrega sem receio de ser desrespeitada”.

Riem meus fantasmas de minha subida loucura. Eles não sabem e tampouco conseguem aquilatar a importância de uma pequena grande lembrança quando somos capazes de assomar a felicidade transmitida.

É verdade. Cartolina não fala, mas meu subconsciente enaltece esses fenômenos psíquicos latentes, que influenciam minha conduta. Claro que eu sei que cartolina não fala, mas também sei que no dia seguinte ela estará ali, na minha biblioteca, exuberante, exalando o perfume das mãos da fada responsável pelos mais sublimes momentos ocorridos na noite antecedente.

Em "A Mulher Irresistível", a autora Dalila Magarian mostra que não basta ter um rostinho bonito e um corpinho de sereia para ter um homem a seus pés. É preciso manter o mistério, ser tão companheira a ponto de ajudá-lo a liberar suas fantasias, para se transformar na companheira e amante que ele sempre desejou.

Vou e quero ir mais além. Para mim a mulher irresistível comporta-se, veste-se, fala, penteia-se, perfuma-se, ouve, sorri, ama e beija como a querida e doce Analu. Uma mulher para conquistar e cativar um homem não precisa de afetação. Necessita ter carisma. Qualidades que sobejam na grandiosidade em esperança pela virtude do Espírito Santo.

Como complemento necessita a mulher ser educada, discreta, sincera, espontânea, simples, apaixonada, amorosa e cúmplice. Desse modo liberará sua feminilidade fazendo o homem se sentir útil, querido e necessário. Sob a égide da ex-aluna sinto-me exatamente assim.

No dia seguinte acordei e sem me levantar, embora não hovesse testemunha, disfarçadamente belisquei-me. Li em algum livro que isso poderia fazer um dorminhoco acordar caso estivesse dormitando. Eu queria acordar? Não. Em absoluto!

Nu, sem escovar os dentes, corri até a biblioteca, incrédulo, vi, exuberante, exalando o cheiro da noite antológica antecedente. A cartolina verde-musgo estava muito mais irradiante. A prova da sabedoria das artes aplicadas estava ao meu alcance. Eu tive a certeza de ser merecida aquela sublime redenção.