Guerrilheiro 44

Fogos estouravam no céu, e a lagoa refletia-os frente a vargem. Os paulistas se divertiam no Arraial do Ribeira, onde se concentravam as tropas.

Enquanto isso os espanhóis estavam preparando seus planos para invadir o resto do país.

Naquele território invadido, que ia desde o Arraial do Chuí até o norte pioneiro do Paraná, permaneceram somente algumas pequenas aldeias e lugarejos, isso porque das pessoas que não morreram no conflito, milhares se refugiaram para São Paulo e estados vizinhos.

Na pequena aldeia de Vila Rica do Espírito Santo, permaneceram alguns soldados espanhóis que não foram para a divisa, dentre ele estava o Cabo Gonsález, o guerrilheiro de número 44 do pelotão de invasão espanhol.

Ali na aldeia, Gonsález conheceu Tamira, uma bela índia brasileira chamada na língua tupi de Aineida. Gonsález encontrava com ela às escondidas, pois os outros soldados não poderiam descobrir.

Em um dia sem batalhas, Gonsález se encontrou com Tamira.

Os dois conversavam alegremente atrás dos coqueiros:

- Tamira, tu viestes ao meu encontro.

- Sim, vim mas não posso ficar por muito tempo e tenho uma má notícia.

- O que é? Conta-me minha amada.

- Gonsález, eu não posso encontrar mais com você. Consultei o chefe de minha tribo e ele, recebendo espíritos indígenas, disse que eu não sou prometida para você.

- Mas por quê?

- Porque você não me ama e só tem interesse em nossa querida terra.

Após dizer essas palavras, ela saiu em disparada pelas trilhas do lugar e ele ficou ali parado, lamentando o acontecido.

Gonsález na verdade não era espanhol, era somente naturalizado, ele era filho da pátria uruguaia, que estava ocupada também pelos espanhóis. Há muito anos servia ao exército como guerrilheiro, mas na verdade era um informante.

E foi no Brasil que ele resolveu mudar de lado na guerra, mas primeiramente queria contar o seu segredo à Tamira, mas ela se negava.

Num certo dia, antes de uma grande batalha, Gonsález se encontrou com Tamira, e disse:

- Tamira, lhe imploro! Escute-me!

Mas ela novamente se recusou e dele fugiu.

Por muitos anos Gonsález viveu aflito por causa de Tamira. E quando os espanhóis ocupavam somente o Paraná, ele foi chamado para a última batalha.

Tocavam-se as trombetas, retumbavam os bumbos e vagarosamente os espanhóis marchavam para o encontro do exército brasileiro. Aproximava mais ou menos das três horas da tarde quando o exército brasileiro, glorioso, atacou os invasores espanhóis.

Nesse momento Gonsález estava em meio à artilharia quando surgiu Tamira, arrenpendia por tê-lo feito sofrer.

Ela, desesperada, disse:

- Gonsález, perdoe-me por fazer de ti mais um aflito no mundo.

Ele, contente, suspirou:

- Tamira, oh doce Tamira, achei que nunca mais iríamos voltar a conversar.

E ela toda entusiasmada respondeu:

- Meu amor, aproveite agora para dizer o que você sempre procurou me dizer.

Ele revelou então:

- Tamira, agora irei contar a minha verdadeira identidade, na verdade eu sou um...

Nesse momento foi interrompido por um tiro que acabara de levar às costas. Morreu ali mesmo nos braços de sua amada, sem contar o seu segredo, sem contar que não era o guerrilheiro 44. Mas uma coisa ele conseguiu, o amor de Tamira de volta.

À Tamira restou somente o consolo de tornar-se livre pois o exército brasileiro conseguiu expulsar os espanhóis do Paraná. E anos após o fim do conflito, o lugar onde morrera Gonsález, em homenagem póstuma a ele passou a se chamar Aldeia "Gonsález Almerrito Morález Dias", o famoso guerrilheiro 44.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 15/10/2008
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