CORAÇÃO ISCARIOTES

A vida nos cai como uma chuva, em milhões de fragmentos. Branda ou violenta, orvalho ou tormenta. O coração é a poça no chão. O sulco é sempre o mesmo, mas a água se altera, se renova. Mas o copo que transborda não controla o fluxo que lhe passa dentro. Amor... raiva... dúvidas... dívidas... vácuos... pandorices; enfim, sentimentos sortidos. Vencendo a correnteza da sarjeta, o barquinho feito do papel de sua carta de amor me torna novamente o menino descalço abraçado pela tempestade. Tinta de junho no rio de outubro. Hoje, estou como quem tivesse parado para pensar em si mesmo. Por isso, e por não ter jogado e apostado e brigado, por não ter sido hilário, por beber pouco e não financiar o álcool dos amigos menos afortunados, perdi minha patente na taberna. Ouço o pequeno concerto que virou canção. Deus abençoe. Deus esteja. Deus perdoe este coração iscariotes. C’est la vie. A vida nos cai como uma luva.

(Ref.: “Pequeno concerto que virou canção”, Geraldo Vandré).

Escobar Sete
Enviado por Escobar Sete em 15/10/2008
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