Me permita

Toco no peito, do lado de dentro

vem ao encontro o vento

que bate afoito no rosto

que arranca a lágrima

que insiste em escorrer

que venha a tempestade pra limpar de vez

minha face escorrida das águas que brotaram

feito fonte, feito mina, feito córrego errante

bata em retirada e corra

evapore para sempre

e dê lugar ao silêncio

a um lugar seco de paz

que eu me recoste,

da tempestade que se foi presente

ao presente que virou passado

De um futuro tão sonhado

De uma vez que nunca termina

Que os raios do sol dourado

percorra feito aço de navalha

a cortar a luz do céu ao mar

pra poder de novo encontrar

o teu rosto

tão meigo, tão sinistro

tão difícil, tão inatingível

tão sublime, dê me alivio

de me paz, de um dilúvio

de me a cor de um dia

novo que irradia

que desnuda a noite fria

Traz a roupa na sacola

tenha a tralha da viagem

voe longe não distraia

vem me abrace assim do nada

tenha pressa, sê consciente

tenha plena, seja eleita

a mais bela das donzelas

a mais pura e verdadeira

fale algo em meu ouvido

sussurre o teu verbo indefinido

mostre-me o rosto de repente

fale-me algo, assim do nada

queira me mais que alvorada

que amanheça este dia