À Sombra de Frondosa Dialética de Sonhos
 

     À medida que a luz adentra no cômodo, as trevas aninham-se em meu âmago. E nas caminhadas, na trilha da primavera, desde que o inverno zelava meu silêncio, sigo a diáfana imagem dos sinais à margem da poesia. Fugidio como areia em ampulheta, o tempo enferruja meu espírito, magnetiza minha alma, corrompe meu corpo.

     Voltas e voltas em círculos concêntricos na derme eriçada da existência. Sombras dançam na parede da caverna, ao crepitar da fogueira e no convite ao mergulho na fonte morna do útero lúdico da reciprocidade de nosso humanismo... Sombras de poeira cósmica, sementes de fótons, peixes fora d'água...

     Imersos em símbolos de sensações famintas, acolhidas no ambiente de uma vigília, na quarentena de um incidente, acidentamos o sobrevôo da essência, tal qual o mergulho faminto de uma gaivota; e o som, perdido e mudo desconhece seu nexo, mas tamanha é nossa imaginação que lhe concedemos a gestação de um verbo, ainda que natimorto exale seu odor pela luz que adentra o cômodo neste instante. E as trevas escapam, a luz toma conta de mim, mas nada enxergo, só sinto o ardor do vazio onde me banho na sombra de um lago sob uma frondosa e deliciosa dialética de sonhos.



 

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Ronaldo Honorio
Enviado por Ronaldo Honorio em 25/10/2008
Reeditado em 22/11/2018
Código do texto: T1247535
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