De verdade mesmo...

Fé em Deus, e pé na tábua. Este é meu lema. Não perco, não caio, não vivo. Se assim, também não existo. Mas penso, logo sofro, perambulo, amo, entristeço. E agora, Maria? Fé em Deus, e pé na tábua, pois o tempo não pára. E o meu tempo dos platonismos confundem-se, misturam-se, amam-se em eufemismos. O que há de ser a palavra senão o algo mais exagerado do coração? Preciso do exagero, que me liberta, me padece, me entristece. Preciso daquele ultimo contento de Camões, ou do último confeito de Florbela. Preciso disso para alimentar a alma, assim como da frase ínfima, última e mais bela: Fé em Deus e pé na tábua. Para ao menos ter a ilusão da alegria que macula a ferro em brasa a razão insensata. Insensatez torna-se no vocábulo de eufemismo, a cautela corriqueira. E as palavras? Prefiro as mais exageradas possíveis, pois por elas posso sonhar. Por elas posso até amar. Por elas posso até enganar: Fé em Deus e pé na tábua. Enganando-me assim, vou fazendo minha verdade, pensando ser a fé a engrenagem do levar adiante. É por palavras que caminho a perdição. São minhas palavras, que hora angustiam, hora alegram, hora mentem pro coração. Razão insensata. Mesmo assim, prefiro procurar os sonhos perdidos de Camões. Finjo serem meus. Pois nada está bem, mas na fé finjo tudo estar, tenho um alicerce, ponte a me abrigar. Mas todo dizer, de alegria e contentamento é mentira, não é verdade o maldoso pensamento. Finjo ser minha a alegria, para não angustiar ainda mais aos meus. Quando na verdade, de verdade mesmo, nem estas palavras, só Deus

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 28/10/2008
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