Nada se aproveita

Nada o que eu digo faz sentido, e ainda assim insisto em enfrentar a folha em branco, o “Documento1” do Word. Carrego folhas rasgadas de um caderno no bolso, que geralmente voltam pra casa em branco. Isso se deve ao fato de que, às vezes, o que causa vontade é o mesmo corpo que impede o ato, e eu já avisei que nada do que eu digo faz sentido.

Eu ouço Elis & Tom, e desisto de escrever, pois parece que tudo já foi dito, e que tudo será cópia mal-feita. No mesmo momento, penso em algo que eu gostaria que vc soubesse, e eu nunca te direi. Portanto, escrevo.

Hoje eu queria te dizer que eu te amaria ainda que você fosse tão velha que nem pudesse mais andar, e que me entristece vc, na flor da idade, andar trôpega, tropeçar, me derrubar, e não cair. E eu avisei desde o começo...

Nada do que eu penso tem razão, e eu não ligo de estar errado. Ainda assim, não consigo evitar a culpa que sinto por não ser exatamente aquilo que vc queria. É quando lembro que vc não também não é exatamente como eu queria, e me pergunto por que insisto em te colocar em cima desse altar que nada tem de sagrado, sendo sua a culpa por isso ser tão profano, e tão bom.

E “o que é que eu posso contra o encanto”?

E não tem nada mais burro do que se fazer o que é certo. E como é bom fazer o que é certo, se foder, enquanto ta todo mundo fazendo o errado, sendo feliz, e perdendo a graça de ser, sentir e passar. E não há razão numa palavra sequer.

E disso, nada se aproveita.

Slash
Enviado por Slash em 29/10/2008
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