PIERROT DIONISÍACO
O que o vinho não me trouxe, aprendi com os desamores.
Um quê de tonto destino levou-me a tantos torpores.
(Tive na vida duas escolas, porém única aprendizagem: se não visse com o vinho, o desamor me traria de bagagem.)
Ah, desamor, como me ensinaste!
Guiaste-me à dor de não poder ficar, ao pesar. E apesar da amargura, me guiaste a volver a gostar, tão somente para levar-me mormente à súbita perda da magia de estar.
Desamor sádico! Torturou - me, quitou-me todos os amores, toda honra! Musas; já não tenho obra, já não há Glória. Acaso Vitória há em desamar?!
Muito questionei minhas perdas – uma após outra - quando alguém com isso poderia triunfar?! Vitória minha?!
Cara esta que tenho e ainda posso pintar uma vez mais, afinal se não me resta mais coração, peço à face sob a tinta que me erga devagar.
Posso, com minha cara Angélica recomeçar a atração, escrever nova história, redesenhar. E esta será feliz então! Pois esta o vinho me trará.
O riso dos transeuntes da praça lerá sobre tudo minha jocosa criação - e animar - se –á! Mas logo cumprida a trajetória, quando a casa retornar, terei meu ponto de partida e minha cara Lisa e soerguida assim só o vinho verá.
Alguém feito de carne e bordados, por entre risos e tablados, sobre as desventuras a criar. Sim, inventando alegria sobre as dores e transformando em poesia os horrores, pois vinho...ah, vinho! Agora entendo o que vieste me dar! Se o desamor machuca, teu sabor sana qualquer parte de minha maquiagem que ainda não haja cicatrizado, qualquer dos bordados de minha roupa que o riso sobre a farsa tristonha tenha, algum dia, descosturado.