Azul

28 de julho, 1993 4ª – chuva Azul

Vi num sonho uma Bailarina-Operária

que escavava uma vala, para onde escoaria a água

para as plantações dos Homens de Chapéu-Torre.

Calos em suas mãozinhas delicadas

e suor pelas suas pernas esvoaçantes.

E o sol bebia seus cabelos longos

e a lua amaciava sua pele branca.

E os HCT fiscalizavam seu trabalho,

e cada um deles sonhava com que ela lhe desse muita atenção.

E ela pensava: “Porque devo ficar velha e morrer?

Porque jamais tive o que quero ter?

Porque me olham com ânsia, esperando que eu perca a força?”

O Garoto-Inglês vinha de uma caçada de borboletas

e tinha um uniforme violeta, todo ele com dezenas de bobs espetadas.

E chegando perto da grande vala, escuta o raspa-raspa de uma pá

e o tchum-tchum de uma picareta.

Pensa em pedir emprestado um dos tantos operários

- que devam tal obra devam estar realizando –

para carregar suas malas e apetrechos.

Mas quando vê aquela figurinha azul, arrepende-se de todos

os seus hediondos crimes e corre , feliz, para o fim da vala.

E, na sua corrida, um dos alfinetes crava-se em seu coração e ele morre.

Quase ao acabar a sua obra, morre também a querida Bailarina Azul.

Tempos mais tarde, passa uma

cristalina água pela vala, que alimenta imensos pomares.

Os HCT distribuem as frutas às gentes e lucram.

Quem come, fica feliz.

César Piscis
Enviado por César Piscis em 18/11/2008
Código do texto: T1289496
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