Quem escreve um poema
Ainda bem que ninguém sabe o quão tolo pode ser quem escreve um poema. Porque quem escreve um poema não passa de um medroso que acabou de aprender a jogar com palavras, e usa isso como desculpa pra não aprender como se joga a vida. Com isso, aprende a jogar a vida fora, com palavras que não têm em si qualquer valor.
Quem escreve um poema joga uma tarde fora pra lembrar uma tarde triste. E ainda assim, faz questão de eternizá-la em palavras que, se usadas na hora certa, poderiam ter mudado o rumo daquela tarde pioneira, e fariam da segunda um passeio a dois, um filme no cinema, um caminhar de mãos dadas numa rua tranqüila.
Quem escreve um poema não se contenta em passar por uma situação ruim. Pelo contrário: faz questão de tomá-la como exemplo do que deve ser escrito e vivido, e assim auto condena-se ao fracasso. É por natureza pessimista, por alimentar uma idéia otimista sobre coisas que ele próprio impossibilitou.
Quem escreve um poema sela um cavalo louco. Entra numa guerra fria sem inimigo, e é capaz de perder.
E é por isso que eu só escrevo “poeminha”. Porque quem escreve “poeminha” é quem tem um medinho qualquer, e, só pra facilitar as coisas, escreve. Desperdiça algumas coisas, sim, mas “e quanto às palavras”?
Quem escreve um “poeminha” é alguém que simplesmente não foi capaz de esquecer. E assume talvez ter errado.
E quem escreve um poeminha acha que talvez seja melhor registrar isso, pois reviver é tão improvável, que algo tem que restar disso tudo. Talvez não nutra assim tantas esperanças, mas quem sabe um dia...
Também, quem sabe, quem escreve um “poeminha” sele o cavalo louco e acredite assim chegar a algum lugar. E, afinal, é mais fraco na guerra. Não há como negar.
O que resta é essa tentativa frustrante de escrever as palavras que não tem si em qualquer valor.
E ainda assim tem sempre alguém que lê; tem alguém que sempre lê.
À M.