O que restou daquela conversa...

E quando parece que está tudo perdido, você percebe que está no lugar certo, embora perdido em si.

Você está no lugar certo, e esse já é um passo enorme. Há tempos você vem dando voltas e voltas num labirinto sem fim. Ainda que o lugar certo não seja a saída, ao menos é mais confortável saber que lá não há solidão. Porque, se o tivesse, não seria assim tão bonito, e não teria aquele rosto tão lindo no curto horizonte. Até aqui todos os horizontes eram paredes, e só por isso, já é melhor.

Então você decide ficar um tempo lá, até porque solidão compartilhada é companhia, e os dois estão precisando de alguma.

É quando você quer saber quanto tempo ela levou pra chegar ali, e ela quer saber o mesmo de você. Ela conta dos obstáculos pelo qual teve que passar, e além de pena, você sente uma identificação imediata, porque também passou por tanta coisa, e ela quer saber, com todos os detalhes.

Pra contar tudo, vão precisar de mais tempo. Pra isso, têm que se ver de novo.

Vêem-se mais duas, três vezes, e agora que estão juntos, andam mais à vontade pelo labirinto, e juntos vão encontrando passagens que não conheciam até então. É quando percebem que juntos podem ir mais longe, e por isso resolvem não se separar. Começam a se distanciar mais, e é tão gostoso poder conhecer tanta coisa, sentir tantos cheiros, provar tantos sabores...

De repente vocês se vêem tão longe de tudo, que agora o labirinto é totalmente diferente daquele no qual vocês se encontraram, e vocês já não fazem mais idéia de como voltar.

A verdade é que não têm certeza se querem mesmo voltar, e ao mesmo tempo, não sabem se quem está do seu lado realmente vai ser capaz de te levar à saída, quando é essa a intenção primeira de qualquer relacionamento: encontrar a saída do labirinto em que todos entram quando resolvem brincar de amar alguém.

Distante demais do ponto onde se encontraram, e sem ter idéia do que encontrarão à frente, vocês resolvem seguir, acostumando-se em ter alguém do lado, e felizes por, pelo menos, não estarem mais tão sós.

Então chega o momento em que começam a notar com mais atenção os novos caminhos que encontram, e percebem que há alguns onde só se pode passar uma pessoa, e passam a ter uma curiosidade imensa em saber o que se esconde seguindo por lá.

A curiosidade vira obsessão, e de repente quem até agora era companhia, torna-se um peso impossível de carregar, e é quando os dois decidem voltar à solidão, a qual agora ambos chamam de "liberdade".

Sozinho (ou livre), você tem a oportunidade de voltar ao labirinto em que vivia antes de conhecê-la, mas prefere descobrir o que há nesses caminhos por onde só se entra só. Ela faz o mesmo.

E qual não é a surpresa de ambos ao descobrir que as pessoas que renunciam à suas companhias e entram nessas estreitas passagens, de repente encontram-se no mesmo labirinto, e passam a procurar umas pelas outras novamente.

É claro que em todo este percurso, muitos se perdem, e passam a andar sem rumo, procurando qualquer fresta por onde consigam sair dali.

Outros encontram suas antigas companhias, pedem-se perdão, e voltam a seguir juntos.

E há ainda aqueles que, uma vez sozinhos no meio de tantas experiências, encontros, desencontros e paixões, decidem por viver um pouco de tudo, até descobrir se há mesmo uma saída pra tudo isso. Se nunca descobrirem, do que importará? Ao menos enquanto estiveram presos, viveram.

Esses, geralmente, tornam-se poetas.

Slash
Enviado por Slash em 19/11/2008
Reeditado em 21/11/2008
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