Prostituta, meu lindo amor

Prostituta, meu lindo amor.26.02.91

Agora todas as mulheres estão sorrindo.

Dão sorrisos de dentro de seus lindos vestidos e das blusinhas azuis.

Elas têm nesse instante uma aparência:

Parecem como tijolos de argila secando ao sol

e esperando que venham recolhê-los

para depois serem postos um sobre os outros,

receberem uma máscara e ficarem ali para sempre.

E Você vai passear com solidão.

Ela leva-lhe às praças, aos morros, às calçadas.

E você vomita seu desespero nos jardins das casas antigas.

E -também- grita: Alô linda-lua! Amo você!

Amo você que não posso possuir!

Ah! Como amo você, você que não posso possuir!!

Mas que tristeza que haja estrelas lá perto, pois nelas também vê amor

e não sabe - ah, não sabe! - como repartir isso.

Então...então fale você desse jeito como se de um outro fosse!!

[Margui vêm a frente de uma procissão.

Ela é algo assim como a Regina de uma legião de seguidores.

Vou na direção contrária.

Quando por ela passo, olha-me. Penso que talvez indague-se:

-Quem é esse? Que pensa? Que deseja? Porque olha-me assim?]

Você veio sonhando pela quente - horrível - noite de um fevereiro.

Pisou, sem querer, nos raios de lua

e em cacos de estrelas apedrejadas.

Pisou nos nomes que estavam andando pela madrugada da cidadezinha.

Você sentou no degrau de um velho portão de ferro

e viu um palhacinho pular da vitrine de uma loja

e dançar com a borboleta que amava a lua.

Havia no ar uma musiquinha - você a conhecia-:

"Rude awakening nº2"

Mas olha pra essa verdade que se estampa em tua face:

Você que está tão morto, não é você que mais procurará fugir disso?

Você que da morte é esposo,

não sonha em traí-la com a outra prostituta?

Pois acho esse um bom caminho para você.

Mande-a embora e fique com a outra mais linda prostituta.

Fique com ela.

César Piscis
Enviado por César Piscis em 20/11/2008
Código do texto: T1293281
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