Eu vou contar para vocês...

De um acaso, sem se saber o porquê, um amor impossível nasceu, vicejou e, como todo grande amor, fez-se flor do Paraíso, num cantinho qualquer em nosso mundo.
Se não o sabem, isso eu posso lhes contar...
"O amor e seus sonhos, transportam pedaços permitidos do Paraíso, aqui para a terra... E em cada um destes pedacinhos, vêm junto... um pé-de- amor”.
E em cada “pé-de-amor”, existe apenas uma flor... de raro perfume, linda e exuberante...

E esta flor tem um nome...


Chama-se... “Felicidade..."

Um maravilhoso amor, que nasceu do nada, cresceu sem motivo que até os anjos o admiravam.
Também se não o sabem, e isso eu posso lhes contar... Os anjos vêm voejar os casais destes jardins de amor, entre nós permitidos...
E, a este casal tão amoroso, tão-se amados e amantes, entoavam a eles suaves e doces canções do mais fino enlevo, ao vê-los assim enternecidos, faces púrpuras de romance, perdidamente enamorados.

E choravam os anjos, como choramos nós ao assistir a um filme de amor açucarado...
Pois se não o sabem, e posso também lhes contar...
"O amor sincero e verdadeiro, toca até os corações dos anjos..."

Então um dia, este amante embriagado de felicidade, fez à amada um solene juramento invocando a benção do SENHOR...

 "Que nunca, jamais, sua boca a ela pronunciaria uma mentira". 

E o idílio destas duas almas assim amadas, tecidas e entrelaçadas, rendas criadas com fios de tão forte querer, continuou por muitas luas cheias, luas novas, sóis, meses, anoiteceres e amanheceres...
Era inacreditável... que este amor, um dia pudesse morrer...

Se foi muito ou pouco tempo, eu não vou lhes contar...


Mas este romance teve fim...


Um dia, um ficou e o outro se foi... Se foi, para nunca mais voltar...
Quem se foi, não olhou para trás...
Também não vou lhes contar, quem foi que sofreu mais, chorou mais ou continua chorando ou sofrendo mais...
Também não conto quem chorou menos, ou sofreu menos, porque não sei...
Se quem se foi... ou quem ficou... Mas isso não importa...
O pé-de-amor não morreu, apenas murchou... e ficou sem flor...
Pois a flor foi-se embora, cruelmente arrancada viva do pé-de-amor, levada pelas mãos dela, com suas razões, motivos, precisões e necessidades...

Longe do pé-de-amor, a flor morreu... e acabou-se assim, a felicidade...

O pedacinho, o cantinho do Paraíso, em silêncio voltou para seu lugar lá no céu.

E foram-se os anjos, chorando também, só que agora tristes, pelo que aconteceu...

Ele, o amante sem amada, e o pé-de-amor ficaram sós...

E fez-se noite, fez-se dia, choveu e ventou...

Amarelaram-se as folhas no outono, gemeu e tremeu o inverno de frio, esqueceu-se o inverno, cobriram-se de flores os campos com a primavera... e... o tempo correu...
E o pé-de-amor, não morreu... Estava e continua vivo, embora murcho e sem flor... sem a felicidade...  Isso eu lhes ainda posso dizer...
Um dia, não sei como, nem sei de onde, pois isso eu não posso contar, veio dela, a que se foi, a pergunta...


____Como você está?


Ele pensou, pensou e pensou para lhe responder...

Poderia apenas lhe falar... ____ Estou bem!  mas assim não o fez...

Estava preso ao juramento de nunca a ela mentir, que levou a felicidade, sua Flor...

Lembrou-se com amargura das muitas noites de sono perdidas, por ela chorando. Estava sofrendo muito, sua dor era imensa, sua falta rasgava-lhe o peito. Era como uma espada rubra de fogo, trespassando-lhe e queimando-lhe as entranhas... Pensava nela todos os dias...

Mas ele não podia dizer isso a ela... por dois motivos.

Não queria que ela sofresse por ele; e dela não queria seu dó, sua pena, sua piedade...

Então, apenas respondeu... E se ela entendeu ou não, também não sei...

Ele, quase sem voz, num murmurio respondeu...

 _____Nunca mais vou falar com você...

E nunca mais de verdade, se falaram... Nunca mais...

E o pé-de-amor?

Este continua vivo, mas murcho e sem flor...

Pois ele, naquele dia do juramento, por se saber e conhecer, também lhe tinha jurado eterno amor... E a continua amando...

E assim é que era... e assim é que foi...

Isso, eu lhes posso contar...

 

Athos de Alexandria  23-11-2008