O que o tempo esqueceu de levar

O tempo passa, ele se arrasta levando tudo e todos. O tempo parece não passar, mas ele é traiçoeiro, nos engana para depois nos matar. Talvez o tempo não nos pertença mais, ou talvez nós que pertencemos ao tempo.

O vento passa e leva com ele toda a poeira que o tempo não consegue levar. Todas as lembranças que ficam, ele mesmo se encarrega de apagar. Mas e eu que só queria viver agora, vivo um futuro imaginário que agora já chegou e não vivo mais.

Se me apaga todas as sombras e ainda assim me deixa no breu do esquecimento, afinal de cotas ele me trouxe ao fim, só tenho o aqui e o agora. O passado não voltará e o futuro não se sabe quando irá chegar, mas já posso sentir os grãos de areia que o vento carrega para formar uma nova duna no meu deserto.

O amanhã já é o hoje, o hoje já é o ontem. E apenas as lágrimas lembrarão que os olhos varreram o passado num último suspirar do tempo. E apenas os vermes lembrarão da vida que aqui existia, do homem que voltou a ser homem. No fim nada consegue resistir aos encantos no tempo, vão-se as lembranças, vão-se os vermes, a areia, a duna e o deserto também.