Espelho Cromado

Em um certo banheiro

De uma certa casa

Em uma certa cidade

Um certo homem

De certo nome

E certa idade

Certamente tomava banho

Certo homem esse sem certeza

Fora a certeza dos homens

Presente em todo espelho

Espelho que matou Narciso

Espelho de todo banheiro

Que é a certeza de ser do homem

Homem certo que saiu do chuveiro

Pegou sua toalha

Descobrindo o cabideiro

Cabideiro cromado

Torto e curvado

Cabideiro novo espelho

Certo olhou-se no cabideiro

Sua imagem torta

Sua boca pequena

Sua testa alongada

Olhos cerrados

E nariz curvado

Brincou com as inúmeras formas

Formas que se fazia no cabideiro

Espelho cromado

Realidade infantil

Brincadeira no novo espelho

Espelho cromado

Distraiu-se do tempo

E correndo virou a cara

Antes que pudesse desfaze-se

Da imagem do cabideiro

Da realidade do espelho novo

Espelho cromado

E realidade mudou

No espelho da parede

Longe do cabideiro

Cabideiro cromado

Novo rosto foi mostrado

Realidade transtornada

Sua imagem torta

Sua boca pequena

Sua testa alongada

Olhos cerrados

E nariz curvado

Onde Narciso certamente morreu