O Mundo Dá Voltas

Houve um tempo em que acreditar era mais fácil. As inspirações eram sinceras e fluentes. Os dias eram celebrados em encontros esperados com ansiedade e alegria. Os corações irradiavam o querer e os motivos abundantes. Não havia a rotina ácida corroendo os bons pensamentos. A vida tinha os sentidos orientados por sentimentos cardeais guiando as horas, amenizando os aborrecimentos e devolvendo o sorriso com a ternura infinita que brotava de simples palavras de carinho. Difícil era acreditar que as coisas seriam diferentes depois de ter experimentado o melhor de tudo.

Hoje compreendo o porquê das mudanças. O fato é que só levamos na bagagem o que é necessário e os paliativos existenciais, as chamadas ilusões, ficam de fora quando é chegada a hora de seguir em frente e enfrentar a realidade. Enfrentar a realidade... Enfrentamento... A força contrária, a aquisição de conhecimentos e habilidades, a capacitação pessoal para lidar com o inesperado...

Por vezes, penso que as ilusões são mesmo a parte mais doce que antecede a transformação. Dizer se isso é bom ou ruim seria condicionar os sentimentos a um racionalismo ilógico e frio. Não existe uma constatação favorável por parte de quem ainda não se rendeu aos encantos de um momento bom. No entanto, aqueles que viveram intensamente suas ilusões sabem no fundo o quanto elas são imprescindíveis no viver.

Agora, o tempo parece nublado, sem as cores daquele caleidoscópio passional que criava as formas absolutas que transcendem qualquer razão e exteriorizam a paixão em nuances inesquecíveis. Mas sei que haverá um tempo em que acreditar será uma constante, porque a mudança trará outros dias para serem celebrados e a recordação do melhor será o melhor acontecendo.