O chifre do diabo que adoro
O chifre do diabo que adoro
14.03.94
Óh cadáver que baila em mim,
a ti uma vela acendo,
lá no túmulo
que não tenho coragem de erguer
e desfaço-me de minhas indiscretas mãos
- e mesmo de seus auxiliares braços –
e danço musica barroca ou um moderno
qualquer barulho, pois só o que importa
é de olhos fechados dançar.
Danço em derredor do túmulo tal
e que alegre é o cadáver
que em mim habita!
Ah, como ele chora alegre
com tais investidas na loucura!
Desliza pelas poças d´agua da chuva que cai
pela rua central da cidade crendice.
Molha-se e canta e dança e cai e levanta.
Ah, cadáver meu,
que pequena vida em mim és.
Que pequena fatia a ti reservada.
Quão pequeno é o espaço
que te foi designado.
Tão pouca pista para o tamanho
imenso dos passos de tua insana dança!
Ah, cadáver meu, sossega teu sonhar
de tão loucos detritos.