Abstracção

Há nas alamedas ou na noite, há nas alamedas uma luz abstracta, configuro o olhar no átrio das imagens e corre a noite num som de crateras, aquele âmbito horizontal para fluir as sombras quando o mar se ouve numa profusão de sentidos. Até os dedos distantes desenharem o areal, o areal no assédio do futuro.

A penumbra lembra-me as alamedas, o que ficou pelos corredores do mar e foi o exílio dos lábios ou do vento ou a última partida ou a metáfora das aves quando dos teus olhos se fixava o vitral daquelas sombras ao anoitecer. É tarde, o halo da madrugada acena a limpidez do ar, o que vamos sonhar se escolhe entre as margens invisíveis das pálpebras.

É tarde sob as alamedas da noite, com a voz abstracta pronuncio as ondas, o mar horizontal onde se encosta o vento das árvores pelas áleas dos sentidos. Adivinhar a manhã na configuração da aurora, as palavras que deslizam no âmago destas imagens e o rastro cristalino da água do que falta para existir. Há na noite um silêncio omnívoro a sorver a luz.

Depurar a luz, a luz da noite pelas alamedas verticais da melancolia.

Dos teus olhos cresciam aves, o infinito aqui sob o halo da aurora.

O que vamos sonhar.