Clemência

Quelemência morreu caduca!

Antes, cantou o Agnus Dei,

O Ave Verum Corpus e o Angelus

E uma Ladainha completa, viu?

Até os noventa e nove,

Sabia de cor e salteado

As quatro operações aritméticas

E calculava adequadamente

O polígono circunscrito.

Sempre estava sorrindo!

Uma vez apenas a ví irritada,

Com sua filha Conceição, de

Oitenta e seis anos de idade.

Afirmava que Conceição

Era mais velha que ela, quinze anos.

E fincou pé: Tiveram que apartar!

Quando completou cem anos teve um desmaio,

Ao comtemplar nosso Senhor, vivinho e sorrindo-lhe

Com uma graça infinita, no Santissimo Sacramento.

O momento esperado por toda uma vida dedicada à Igreja,

Aconteceu: Em júbilo!

Nem o cheiro forte do vinagre no nariz,

E o sal amoníaco, resolveram.

Acordou na hora que quís,

No momento do franguinho caipira assado

Pois que era Domingo,

E ela tinha trocado olhares com nosso Senhor.

A vida, por educação,

Deu-lhe mais alguns anos.

E foi lapidando, lapidando...

Pra libertar um brilhante.

Cento e catorze anos!

Tinha muita coisa pra lembrar.

Mas foi esquecendo, esquecendo...

Até se esquecer de acordar!

Naquela manhã,

Ganhou roupa nova de presente,

E um rosário de nuvens.

Foi ser um bordadinho no manto de nossa Senhora!