Lembrança no aroma

Posso jurar de pés juntos que acabei de senti-lo. Mais uma vez, depois de tanto tempo sem me deparar com ele. De fato, cheiro é uma coisa que fica, e quando sentimos um ligado a algum acaso, é impossível não voltarmos a ele.

Agora, eu acabo de inalar o aroma da casa dela. Casa não, apartamento. Como se não bastasse, as condições aqui eram as mesmas de lá: ventilador de teto, filme no aparelho de DVD. O que havia de diferente é que antes, eu meu colo, o peso era do repouso da cabeça dela. Hoje, foi o de uma almofada.

Mas independente disso, caramba, eu quase pude senti-la comigo. Ah, aquele verão de 2006 está mais vez renascendo na minha memória.

Naquele tempo, víamos filmes todos os dias na casa dela. Quero dizer eu via, grande parte dos acompanhantes, inclusive a menina, dormiam. Sim, descansavam de um dia quente e ocioso do litoral. Depois que a obra da sétima arte terminava, todos iam embora. Menos eu. Ah, leitor, não pense que você que acontecia isso que você, muito provavelmente, pensou. Não foi isso; foi quase. Oras, não zombe da minha ingenuidade. É certo que nenhum de nós éramos tão crianças assim, mas ela a minha primeira garota e eu tinha de fazer as vontades dela, como todo bom vassalo perante sua dama. Tanto para não fazer tal coisa como também para fazer. E mais, tinha de ser de acordo com as vontades dela. Tudo bem, ora pois, eu não sabia mesmo fazer.

Ah, que esplendorosos foram aqueles vinte dias!

Que saudades daquele tempo! Dos filmes, do ventilador, da menina... e também do cheiro, dela e da casa, por que não?