Morei durante dois anos no Paraná.
Não tinha cachorro nem gato.
Tinha um cabritinho.
Ah! O olhar do cabritinho!
Nada mais doce, amigo e solidário!
Na falta de alguém com quem conversar, era para ele que eu contava meus segredinhos.
Jamais me condenou, que era um sujeito de boa cabeça, muito centrado e inteligente.
Ouvia caladinho e não interrompia.
Corria atrás de mim com graciosos pulinhos.
Nessas horas era tagarela e falante.
Balia de um jeito contente.
Nunca se cansava antes de mim.
Só não ia para a escola pois as freiras não quiseram matricular meu cabritinho. Nunca vi tanto preconceito!
Um dia, ao voltar da escola, minha mãe contou que vendera o bichinho.
Até de lembrar, tantos anos depois, me doi.
Nada me consolava.
Foi minha primeira grande perda.
Dias depois, vi minha mãe chorando pois contaram a ela que um tal de Getúlio tinha morrido.
E ela me ouviu:
- Bem Feito! Você vendeu meu cabritinho, e seu amigo morreu.