A FORMAÇÃO DO LÉXICO

Osvaldo André de Mello*

A minha mãe de mãos de fada poderosas

deixou diminutos desenhos, pinturas a óleo,

e ousou a grande tela, magnificamente.

Fez porta-jóias primorosos, encapou a couro de jacaré

e pelica seu “Goffiné: Manual do Christão.”

O meu primeiro livro, em cujo original interferi,

foi uma história que inventou, escreveu em letra de forma,

ilustrou e encadernou.

Alguns dos seus bolos: “ Coelhinho”, “ Cisterna”,

“Cesta de Rosas”, “Leque”, “Livro Aberto”, “Pombal”,

“Pombinhas de Açúcar”, “Caixa de Bombons”...

Ela explorava as cores de uma refeição,

como se fizesse arte: entregava-se com disciplina e criatividade

ao nutricionismo plástico.

E vai lembrança de presença expressiva

por onde andou minha mãe...

De todo o acervo de obras e da projeção constante do filme

de sua vida, na memória,

resgataram-se as cenas de quando desmanchava, ciclicamente,

as peças de cretone, em lençóis e fronhas, pegava na orla

do tecido e pronunciava a palavra “ourela”.

*Osvaldo André de Mello nasceu em Divinópolis, estudou Artes Cênicas no Teatro Universitário em Belo Horizonte e voltou para Divinópolis, onde se formou em Letras. Sua primeira publicação foi aos dezenove anos, com A Palavra Inicial (1969), e o poeta publicou ainda Revelação do Acontecimento, Cantos para Flauta e Pássaro, Meditação da Carne, e A Poesia Mineira no Século XX, entre outros. No teatro, dirigiu peças de grandes autores, como T. S. Eliot, Nelson Rodrigues e Emily Dickinson. É responsável pela montagem e direção do espetáculo APARECIDA NOGUEIRA IN CONCERT.

( Ganhei esse lindo presente e não poderia deixá-lo guardado. Trouxe-o para que mais pessoas dele usufruam.)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 07/01/2009
Reeditado em 07/01/2009
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