O INFERNO EM NÓS

Estranho como que algumas vezes nos sentimos meio que sozinhos, sem rumo e providos de uma insegurança tal que, nos coloca em um invólucro, numa espécie de casulo que nos isola do mundo. E assim, meio que num surto repentino, nos vemos sós em relação a tudo e a todos.

Por mais que nos esforcemos, que busquemos eliminar esse sentimento de abandono, de angústia, só nos aprofundamos mais nele. Na rua são sempre as mesmas pessoas, os mesmos rostos estranhos, enrugados e corroídos, semblantes de uma vida sem sentido, transeuntes que mais parecem formigas a baterem cabeça. E, a simples idéia de sermos mais um nessa gigantesca nuvem nos apavora, a ponto de num silêncio profundo soltarmos um grito de socorro, um grito que nos torne averso, reverso ao que somos.

E o que há de mais assustador nesses momentos é que mesmo as pessoas que amamos e conhecemos, passam também a serem estranhos e responsáveis pelo vazio que ora nos invade.

Culpamos sempre os outros por nossos temores, nossas tristezas e incapacidade de compreender nossos desajustes, nossa complexidade ou mesmo o inferno que há em nós.

Cotidianamente, relutamos em não aceitar a humanidade e o direito de errar, nos alimentando com um orgulho bobo e uma individualidade mesquinha, dando assim, vasão ao superior que não há em nós.

No fim, a constatação de que somos no fundo, todo um turbilhão de emoções num pequeno caração absorvendo tudo o que não é nosso, expulsando tudo o que mais nos faz ser.

Somos muitas vezes, como que água a correr entre pedras, barco a deriva. Somos a água escura e taciturna em meio a solidão do rio. Por vezes, o céu em nós, outras o inferno.