SOLILÓQUIO DO ESCRITOR INSONE

Atmosfera de extremo cosmopolitismo esta em que não se pode mais chorar em paz na véspera de feriado sem pensar em querer massagear o chacra Plexo Solar ; ter um vestígio de depressão e a natural-não-mais-que-natural vontade de enfiar a faca do cabo preto vísceras adentro ,sem levar em conta o desespero da mãe ou pior, considerar que , caso não morra( ou até morrendo) , a psicóloga cobre pela eventual consulta que faltei naquela semana, a que eu não iria em caso de facada.

Tantas curas esperei dos correios e pela editora assinei bons conselheiros. Telefone, fax, e-mail e outros tantos tubos de respiração que me mantiveram vivo, aceso.Para vocês, meus “herdeiros” poderei deixar o pouco que juntei versando na cidade. Neste momento, não há esperança permanente, parcelada,assinada, não há. Assassinada, quiçá.

*

E essa petulante insistência na vida?

Que se sobrepõe a toda noção de escrúpulo, auto-estima e todas essas tonterias da espécie!?

Que nem mesmo nós compreendemos, ou concordamos, ou apoiamos...

Não, isso não é humano, não é definitivamente normal. O inferno nos parecer salutar não se explica nessa vida, com essa cosmovisão, com qualquer conceito -rudimentar ou etéreo- de amor.

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A madrugada me atormenta com idéias fulgurantes, palavras precoces e um quê de sem número. Até aí nada que me enalteça. Não acendi a luz e escrevi. Ou acendo ou cedo. Melhor ceder. Mesmo me concedendo a mãe-inspiração o menor texto de meu portfólio: melhor ceder. Ainda que seja idéia, tão - somente um breviário que nunca venha a se desenvolver. Melhor ceder. Não obstante me poupe um provável sonho erótico seguido de gozo madrugueiro. Ah, lastimável perda ...todavia, melhor ceder! Eis o que faço. Sou lacaio da madrugada, vivo à mercê do ato falho. Receber uma mensagem de quem só aparece quando quer. Algo de Jó há em mim.

Uma espécie de médium da palavra tentando conciliar sua vida pacata ao seu dom algo abstrato. O precisar de grana e a arte. A beleza com a honestidade. O amor real com a familiar hostilidade. Este sou eu: malabarista de dicotomias. Artista - mas quem não o é?!

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Meus peixes , assim como eu , dão espasmos em água turva. E olhe que já troquei a água!

E toda essa cutícula verbal acaba de revelar alguém que precisa (e merece) dormir em paz.

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 12/01/2009
Código do texto: T1381688
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