Nostalgia e sofrimento

Esclarecimento:

O meu relato não implica dizer que passei por essas fases da nostalgia. Na verdade essa prosa é o produto da observação que fiz sobre pessoas com as quais já convivi no passado...

Fico a me perguntar por que será que, por vezes, invade-me a nostalgia, pegando-me pelas bordas e depois se aprofundando por regiões desconhecidas, onde, por certo, deve morar a minha alma.

Com tantos sentimentos disponíveis nesse mercado infinito, onde fazemos as nossas escolhas, somos, de repente, escolhidos para curti-la sem que haja nenhuma possibilidade de recusa...

Quando ela chega, raramente a aceitamos de imediato, oferecendo resistência às suas investidas e, naturalmente, sofrendo retaliações que nos ferem o corpo com pequenas doenças que podem se aprofundar, caso a demora em aceitá-la se prolongue por muito tempo.

Nesses momentos eu me entrego -graciosamente- sabendo que não tenho saída e, mais ainda, tudo que eu fizer para ignorá-la só fará aumentar o seu poder de fogo.

Enturmada como ninguém, ela, a nostalgia, traz amigos à tiracolo que colaboram nesse processo de aos poucos nos massacrar, dos quais falarei, mas, somente daqueles que julgo serem os mais importantes:

-A saudade -especialmente a mórbida- de algo que nem sabemos muito bem o que é, mas que fazem com certeza, pipocar lembranças em nossa mente, escorregando em seguida rumo ao coração.

-Da saudade à tristeza é um passo muito curto, mas de longos transtornos em nossas vidas, tirando-nos aquelas graças que estão incrustadas nas coisas miúdas e que poderíamos definir como sendo: - Breves momentos de felicidade.

-Da tristeza à depressão, basta um abrir e fechar de olhos, para estarmos inteiramente mergulhados nessa coisa terrível que nos tira todos os coloridos, transformando a nossa vida num filme B, em preto e branco; desmoronando pilares e referências que levamos anos e anos para construir.

-Da depressão -que por si só já é um tremendo sofrimento- às doenças mais graves e, até mesmo ao suicídio, estamos separados por um pequeno passo, que poderíamos simbolizar como sendo apenas uma gota d'água...

Como eu já disse, quando a nostalgia se apresenta, o melhor que temos a fazer é observá-la, corajosamente, sem desperdiçar energia tentando expulsá-la do nossso interior; olhá-la nos olhos e procurar compreendê-la, aceitá-la, tratando-a como alguém ou alguma coisa que nos é muito cara, e, que está querendo nos chamar a atenção para algo que somos nós mesmos, mas que, errôneamente, pensamos estar separado de nós...

Nada, absolutamente nada do que sentimos pode estar separado de nós, sendo, portanto, uma parte de nosso ser. Ter essa consciência ajuda muito a mantermos o nosso equilíbrio e a nossa lucidez...

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 20/01/2009
Reeditado em 21/01/2009
Código do texto: T1395045
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