Tardes de primavera em Valença

Tardes de primavera em Valença

Um dia, estava sentado em um banco de praça em Valença, interior do Rio de Janeiro, quando meus pensamentos entraram em ebulição, e comecei a questionar as coisas do mundo, e, dei asas à imaginação...

Sempre desejei ter uma casa com jardim florido na frente. Fiquei imaginando como seria essa casa. Meus pensamentos arrumavam e desarrumavam colunas. Mudava janelas e portas de lugar. Aterrava aqui, desaterrava ali. O lote da casa tomava as dimensões que meus pensamentos necessitavam, e aos poucos construi a casa dos meus sonhos. Era uma rua tranqüila, de frente para a serra da Glória, e de lá se descortinava todo o frontal do morro onde se localizam as antenas da Embratel e a plataforma de decolagem de asas delta. A paisagem era linda, e eu pintava a casa com as cores que, de longe, dava a impressão de cartão postal. O sítio onde se localizava a casa era uma elevação com um declínio suave, que descia, desde a porta principal da casa até alcançar o portão de entrada. O lance que levava da entrada até a casa, era uma alameda em curva para direita e a seguir, ligeiramente, para a esquerda, voltando à direita, em forma de “S” aberto. Nas laterais, seis de cada lado, foram plantados doze mudas de ipê amarelo, árvores ainda comuns nessa região, e que, durante os meses de agosto e setembro, embelezam mais a paisagem com o desabrochar de suas flores. Nesse arranjar de coisas, me perdi em pensamentos e me deixei enlevar pelo cântico suave das sabiás, e me peguei cochilando no banco da praça. Nesse transe, me apossei da praça, das árvores, dos pássaros e de tudo que havia ao meu derredor; mas, ao mesmo tempo, as pessoas passeavam tranqüilas pelas vielas, as crianças brincavam e corriam, como se aquele espaço e todas as outras coisas, também fossem delas. Percebi então, que os homens, individualmente, cada qual, não precisa ser dono de um jardim particular, mas que viveríamos mais felizes se utilizássemos melhor o bem público e respeitássemos a natureza. O pássaro canta melhor quando está solto. Cada homem deveria sentir responsabilidade de zelo, tanto pela coisa pública, quanto pela natureza, e preservá-las como se sua fossem.

Certo é que, em meus devaneios percebi não ser necessária a posse real das coisas para se atingir a felicidade, mas que, bem se pode ser feliz no mundo virtual, do “faz de conta”.

Nessa dimensão podemos ter o que quisermos e do jeito que as imaginarmos.

Nessa tarde fui feliz.

Dormi na praça.

José Fernandes
Enviado por José Fernandes em 16/04/2006
Código do texto: T139835