Te canto...te conto....

Forma delicada, cor pulsante e muitos sons suscitados...era um turbilhão de avenida...carros, transeuntes, vozes dissonantes, e um som interior forte...como que de uma bomba de sangue.... se contraindo e se expandido... pulsando....mas confesso que esta forma não se limitava ao meu foco, eram muitos olhares...todos viam ... para eles um simples olhar...eu vi de perto... explodi em desfoques momentâneos...numa sinestesia de quadro abstrato... Espaços-tempos definidos/indefinidos... temporalidade circular...estava dentro e fora do carro preto ...tocando...sorrindo...estressado...descontente...afobado... textura típica de homem pós-impressionista...quente...alaranjado...O suor escorrendo pela face... pinceladas de sensação de face gloriosa...uma atitude de passagem...denunciava um sonho interompido...uma utopia-concreta...dessas coisas que não duram mais que breves segundos...frações de sentimentos alterados entre a alegria e a tristeza... o amor e o ódio...o entusiasmo e a retração...desinventei o momento ...estranho...não sei como!....em verdade...não era nem uma coisa nem outra...nem queixa....nem desejo...nem uma coisa nem outra, mas tudo ao mesmo tempo... Face de sentimento sagrado...a arte de amar caminhando... e o glorioso tormento do que já foi... Embriaguez...fascinação... paixão... comoção... desvario... frenesi...era tudo isso...paixões recorrentes...era redundante o sorriso de canto de boca...era sim..uma capacidade inutilizada de código...era uma imagem que refletia um impulso vital de corpo formado por sensações...de dois corpos distantes e unidos...de choro incompleto...de beijo inacabado...de amplexos tão complexos...pelo estímulo sensível que exacerba a visão...essa audição que não enxerga mais nada... o tato tosco...o olfato que só ouve silêncio... Ressonância total....de cantos...de encontros...de linhas fugidias... essa desterritorialização abrupta de nós tantos... um contorno de gosto amargo... uma ferida no corpo do costume...uma fissura no seio do olhar...meus orgãos de sentir estavam confusos...que imagem é essa..de gozo na carne ...na pele e no osso...??? ação/reação...que confusão é essa de cérebro e estômago...de vícios e náuseas????? sem fé, nem lei, nem rei...segui...com a imaginação extravagante e pouco criativa...a vênus de tua pele crivando meus passos....e o fabulário de seus delírios cotidianos impregnado em minha carapaça...a máquina de fuder a todo vapor...sugeri uma poesia de desinvenção... para dilacerar minha rocha retorcida : “Quem esse vento pensa que é? É um deserto? Saara?...não é ninguém que me bate a porta...deve ser a lembrança e nada mais...” entre o querer dizer da poesia de boca fechada e a impossibilidade de falar... a essencialidade em seu secreto furor; e diga-se... não é potência de apaixonar-se em terça menor...mas uma acorde da arte de amar...um exercício melódico de longa duração...uma arquitetura invisível de círculos...uma só ou várias mulheres? Muitas novelas?....o que se vem pela frente? Sobrecodificadas de segmentos e fluxos mutantes? Pressuposição recíproca? O Imperceptível? Nada disso sozinho...tudo isso junto...Juntinho...e tão separado...era tão perto e tão longe que ouvia esse seu apertado gozo...Simples encontro de forma e matéria? Definitivamente não! Era um sopro de pena miserável de deixar de ser eu e de te desdizer ...de ter o seu canto de sossego...e o conto de meu ventre rasgado...assumi dissonâncias...e recorri ao universo para distanciar-me do eterno e do infinito de um tal desencontro...estabelecendo laços íntimos com a sua liberdade...Sabe de uma: entre o seu canto e o meu conto...não vai ficar canto sobre conto...

Rocha...

Rocha Gomes
Enviado por Rocha Gomes em 17/04/2006
Código do texto: T140544