Mar calmo

Não tenho nada interessante a escrever sobre mim hoje. A fonte de minha inspiração nunca muda. Os dias vão lentos, como anciões tuberculosos, os anos se apressam como máquinas. Nada ainda ganhou sentido, como achei que pudesse acontecer no decorrer do tempo, e a sucessão de acontecimentos, quaisquer que sejam, não me afeta. Não há mais repouso na dor, nem a esfuziante alegria de certas horas. Sou só meu corpo que não mais se move nesse labirinto sombrio pairando sobre o tempo.

Mais um proto-amor se vai no vento. Sou uma carne curtindo no álcool e no tédio. São nove horas, talvez mais. A nova manhã já começou e não há planos a fazer. Por hora é recriar um blues imaginário e encarar as moças que passam vaidosas, especulando sobre elas e o que certamente me falta. Nos quintais vizinhos o broto cresce mais depressa, portanto, terei de me acostumar a idéia de topar com você acompanhado numa hora desses, num desses bares freqüentados por vários conhecidos . Talvez faça isso de propósito, só para me sentir viva.

Minha velha companhia já não presta, estou repetitiva e sombria, há contas a pagar e continuo dormindo. Você não compreende porque é assim. Fico paralisada pelo vazio, seu passado repercutindo em minha mente, assim como o seu futuro. Parece interessante, embora pontuado por momentos de pura neurastenia.

Possivelmente você me convidará para um drink, qualquer dia. Afinal de contas tenho um bom papo e momentos de pura comicidade. Além disso, aprecio bebidas quentes como whisky, vinho, vodka, tequila, conhaque. Mas temo (ou não) que será apenas um passatempo soporífero, como outros tantos de que certamente irá dispor.

Fatalmente ouvirei falar no seu nome, mas não procurarei maiores informações. É confortável nadar num mar tão calmo quando não se alimenta os tubarões da paixão. Pragmatismo, enfim, chegaste para trazer essa sensação de tranqüilidade nauseante. Assim, seguirei daqui por diante protegida pela névoa do destino que me restar. Sem amor, sem dor, sem nada de importante.

Jan Morais
Enviado por Jan Morais em 28/01/2009
Reeditado em 29/01/2009
Código do texto: T1410177
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