O caminho

Ali era o final, realmente e sem dúvida a estrada terminava naquele ponto, não havia mais opções, não havia mais festejos, sons, mesmo que ao longe, já não se ouviam mais. Estranha esta sensação de encerramento. O silêncio estava quase insuportavelmente alto, a solidão estava em toda a extensão da sua alma. (Alma tem extensão?). Olhar para o nada que se estendia à sua frente chegava a doer.

A terra pegando fogo, a visão se clareando, a névoa já quase dissipada e o nada, aumentando a sensação de fim de viagem, o calor, ah! O calor! Que horrendo calor subindo pelas pernas e dentro da cabeça. Aqui e ali alguma flor rasteira pelo chão, triste, cabisbaixa, ainda deixava se ver que houvera vida ali, no fim do caminho para lugar algum.

Tão procurada tão desejada na hora da partida a meta estava ali, poucos passos adiante e era o fim, não havia mais obstáculos, montanhas, construções, nada. Nem a possibilidade de voltar atrás, que a idade e a canseira da árdua viagem até aqui nunca iam permitir. Nem a estranha voz das companhias que foram ficando pelo caminho, mas que, até pouco ainda, a memória fazia ouvir , nem o riso fácil das mulheres, nem o sorriso tenso dos homens.

O mais estranho é que não vira o tempo passar, quando percebeu, ali estava, só, sem nem mesmo uma aragem que lhe restabelecesse as forças, que forças já não tinha nem para respirar, sem nem uma mão que pudesse apertar (e quantas mãos deixou de apertar no caminho). E que longo caminho até chegar ali!

Parecia que faltava, sempre, tudo e por isso lutava, barganhava, corria, deixava tudo e todos para trás, só olhava para frente, para o dia em que teria tudo em suas mãos, o dia em que teria todos sob seu jugo, por que era mais forte, mais guerreiro, mais esperto.Certo? Errado! Em algum lugar tomou o atalho que trazia para ali, e ali era o nada.

E o nada foi o que restou dos sonhos, das lutas, das caminhadas que julgou dar.

nadiaestrela
Enviado por nadiaestrela em 18/04/2006
Reeditado em 18/04/2006
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