Músicas

La boheme.

Cresci ouvindo isso. Na minha infância ouvi em momentos tristes; as brigas consumavam o amplo espaço de minha casa. A melancolia visitava-nos sempre com aquele belo sorriso, porque depois da briga essa e outras músicas eram tocadas. O rosto molhado pelas lágrimas avistava o nada que está além da realidade, deixando o coração a levitar, a se agitar, mas por que se não entendo o que a música diz?

A briga traz a tristeza, estando-se triste, escuta-se música dizendo algo que não é compreendido, mas que eleva o sentimento. Portanto pensa-se no que quer.

Música e bebida são sempre parceiros em momentos antagônicos, remédio momentâneo que dá força e coragem para dizer que é forte. Mas ao primeiro passo, o homem treme e diz que não vive sem ela.

Hoje, novamente, depois de muito tempo, ouço essa música e sinto o porquê de sua importância, mas continuo entendendo nada.

Minha mãe, após os desentendimentos, logo colocava o disco vinil para tocar e ia buscar dentro da geladeira sua cerveja (que eu tanto detestava!). Seu livrinho de pensamentos pedia a mim que eu lesse, antes escolhendo uma página. O choro era contínuo em seu rosto brilhoso, mais parecia óleo, pois o luar o fazia brilhar.

Agora entendo que o importante é retirar, imaginar o que possa ser, ou bem melhor: deixar o conjunto de sons entrarem em sua mente.

Eu era criança e não sabia o que era amor; não quero dizer que não amava, pois é claro que amava e amo, mas de uma forma diferente. Agora sou um homem e amo como um. Da mesma forma que se descobre o nada, que é observado pela janela, eu descobri o que minha mãe tanto sentia e imaginava ao ouvir essas gloriosas e saudosas músicas que não lhe dão o entendimento; por privilégio deixam cada um interpretar como quiser.