É inevitável espiar

O trabalho fadiga o corpo, cansado.

Liberta a mente, fadada

Ao esplendor do serviço.

Pensar relega o corpo, fardo pesado

Ao plano inútil do andar pra lá e pra cá.

Eleva a mente, máquina sublime,

Ao repasto sutil de outras dimensões.

Fala faz trabalhar as cordas

Vocais].

Vibrar o tambor

Timpânico].

A linguagem falada dá vida ao pensamento

Que por um momento, parece materializar-se.

O olhar traz a alma pra fora

Tira-lhe a roupagem soberba com a qual se fantasia

Diante da multidão que anuncia

A reviravolta do mundo.

Serviço é coisa pra poucos.

Devassidão é alegria de muitos.

Compreensão é dever de casa constante.

Compromisso é saudade da escola de almas.

Por isso eu vou olhando.

Somente espiando.

Os homens tolos.

Feito máquinas ambulantes.

Trabalhando sem cessar

[pra mais dinheiro ajuntar].

Pensando sem parar

[pra mais livros amontoar].

Falando com excitação

[pra mais vozes calar].

Olhando como eu olho

[pra mais indiscreta a janela se tornar].

Colibri
Enviado por Colibri em 02/02/2009
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