É inevitável espiar
O trabalho fadiga o corpo, cansado.
Liberta a mente, fadada
Ao esplendor do serviço.
Pensar relega o corpo, fardo pesado
Ao plano inútil do andar pra lá e pra cá.
Eleva a mente, máquina sublime,
Ao repasto sutil de outras dimensões.
Fala faz trabalhar as cordas
Vocais].
Vibrar o tambor
Timpânico].
A linguagem falada dá vida ao pensamento
Que por um momento, parece materializar-se.
O olhar traz a alma pra fora
Tira-lhe a roupagem soberba com a qual se fantasia
Diante da multidão que anuncia
A reviravolta do mundo.
Serviço é coisa pra poucos.
Devassidão é alegria de muitos.
Compreensão é dever de casa constante.
Compromisso é saudade da escola de almas.
Por isso eu vou olhando.
Somente espiando.
Os homens tolos.
Feito máquinas ambulantes.
Trabalhando sem cessar
[pra mais dinheiro ajuntar].
Pensando sem parar
[pra mais livros amontoar].
Falando com excitação
[pra mais vozes calar].
Olhando como eu olho
[pra mais indiscreta a janela se tornar].