NOTAS DO AMOR VISCERAL

Amor silente

Da mais completa e fina dor

Um amor complacente, indolor

Ambíguo, como todo grande amor deve ser.

Um amor indene, ordinário

Absolutamente hipócrita e vezeiro

De brotos baixos, de sonhos em vôo

Apaziguado pelo velame e pelo adorno.

Amor sem sobrenome

Dum olor plácido, inconsequente

De amargas linhas a circundar nuances

Peristáltico, cáustico e etéreo

Como todo verdadeiro amor tem de ser.

Amor que rompe as pontes caprichosas

Sem pejo nem apelo de desejo, sem prumo

Um sabor tresloucado, magnífico, abissal

Amor que não arfa, pois tal, amor.

Sublime, convicto, abobalhado

[Um amor sem sinos não é amor!]

Sabe ler o que há de amor no amor

Prima por se revelar, pelo desvelo, pela fome.

Fome?

Ah, quanta!

De céu, de bruma, de águas infindas de oceano

Um amor com dom catastrófico e contundente

Como todo sápido amor deve ter.

Pelas avizinhadas azinhagas

Donde lampejam amiúdes venenosas, lumaréu

Impávido, resistente, parcimonioso e latente

Um amor com todas as fontes, como todas as gentes

Amor ledo, obscuro, infantil e, sobretudo, visceral...

Como toda vida deve sorver.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 05/02/2009
Código do texto: T1423683
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