NOTAS DO AMOR VISCERAL
Amor silente
Da mais completa e fina dor
Um amor complacente, indolor
Ambíguo, como todo grande amor deve ser.
Um amor indene, ordinário
Absolutamente hipócrita e vezeiro
De brotos baixos, de sonhos em vôo
Apaziguado pelo velame e pelo adorno.
Amor sem sobrenome
Dum olor plácido, inconsequente
De amargas linhas a circundar nuances
Peristáltico, cáustico e etéreo
Como todo verdadeiro amor tem de ser.
Amor que rompe as pontes caprichosas
Sem pejo nem apelo de desejo, sem prumo
Um sabor tresloucado, magnífico, abissal
Amor que não arfa, pois tal, amor.
Sublime, convicto, abobalhado
[Um amor sem sinos não é amor!]
Sabe ler o que há de amor no amor
Prima por se revelar, pelo desvelo, pela fome.
Fome?
Ah, quanta!
De céu, de bruma, de águas infindas de oceano
Um amor com dom catastrófico e contundente
Como todo sápido amor deve ter.
Pelas avizinhadas azinhagas
Donde lampejam amiúdes venenosas, lumaréu
Impávido, resistente, parcimonioso e latente
Um amor com todas as fontes, como todas as gentes
Amor ledo, obscuro, infantil e, sobretudo, visceral...
Como toda vida deve sorver.