Progresso? Provação? Insânia?

Eu estava no Banco do Brasil, sito na Rua Sete de Setembro, Campina Grande - PB. Resolvera sacar "um trocado" para não passar o fim de semana "liso, leso e louco". Poderia ter feito isso em uma Casa Lotérica, mas tal qual o Banco as filas estavam por demasiado longas.

Impaciente, dirigi-me, antes de decidir o que fazer, até uma barraca onde resolvi tomar água de coco, comer uma fruta, conversar com o vendedor.

"Pela paciência possuireis as vossas almas."

Neste sentido é de bom grado escrever um pouco sobre a paciência. É muito comum ouvirmos esta exclamação: "Perdi a paciência!". Como sabem, porém, que perderam a paciência? Por que quando precisaram daquela virtude para se manterem calmos e serenos não a encontraram consigo, e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios contra motoristas imperitos (Barbeiros) no trânsito, principalmente, e blasfêmias?

Só pelo fato de não encontrarem em seu patrimônio moral aquela virtude, alegam logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que não possuíam? Será melhor que os homens se convençam de que eles não têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: “Pela paciência possuireis as vossas almas”.

E não pode haver maior conquista que a conquista própria. Já alguém disse, com justeza, que: “O homem que se conquistou a si mesmo vale mais que aquele que conquistou um reino”. Em Analu vejo a heroína das cruzadas. Uma autêntica Joana d'Arc contemporânea. Aguerrida, ela se supera e vence obstáculos mil em busca de sua autenticidade pragmática.

Animada apenas pela energia de suas convicções, apesar da pouca idade, simples e obstada por canhestros freios sociais, seu exemplo guarda um valor universal. Ela brilha e rebrilha tal qual bandeira que drapeja anunciando vitórias e novos alvoreceres merecidos.

Não sou tão grande ou forte, tampouco inconstante, mas tal qual a linha inconsútil, que medeia entre o bom senso e a insânia, sou tênue como a aurora rosicler. Isso é bom, mas no momento sinto uma dor nostálgica. Essa sensação dolorosa é aguda e me consome desde a partida repentina da amantíssima Analu.

Trata-se de uma dor referida, fulgurante e surda, mas forte o suficiente para me aniquilar os ideais e as ideias emergentes. Um forte vendaval arrancou-a dos meus braços para um local inóspito. Embora muito quisesse não a segui. Não pude fazê-lo! Ela se foi, saltitante, com seus cabelos negros, lisos; nos ombros nus desenrolavam-se as madeixas perfumadas argentando o firmamento. Seus cabelos, agora curtos, deram-lhe uma jovialidade acentuada.

Igual a mim Analu sofre por uma razão singular: seus afins não lhe dão as merecidas atenções e homenagens. Não lhe abraçam, também não lhe beijam os olhos melífluos, os cabelos sedosos, as dobras da pele sem cor, o corpo inteiro veludo.

A dor é como o fogo. Seus efeitos podem ser benéficos e salutares, ou destrutivos e aniquiladores. O fogo entregue a si mesmo, sem objetivo definido, sem aplicação inteligente, é o incêndio que devasta, destrói e consome.

Assim é a dor: é benéfica, segundo a maneira por que a recebemos e o modo pelo qual a suportamos. A dor de Dimas (ladrão bom e arrependido) é o fogo que redime, eleva e purifica o espírito. A dor de Gestas (ladrão mau, também crucificado ao lado de Cristo) é o fogo que devasta as florestas do orgulho revoltado, desprendendo as chamas rubras, sulfurosas, carregadas de fumo negro malcheiroso.

A dor do filho de Deus é a luz que ilumina o mundo e acorda as consciências adormecidas, que enobrece os corações dos homens de bem, afinando as cordas do sentimento sincero. Esta última modalidade da dor é desconhecida dos simples, homens comuns.

Essa bendita dor só atinge os anjos, deuses e semideuses. Eu nunca quis sentir dor. Talvez eu esteja sendo pretensioso em demasia, mas há muito sinto essa dor em sua magnificência e plenitude. Isso não é tara e tampouco idiotia. Quem sabe? Talvez seja progresso, provação, insânia.