DO AMOR E DE TODAS AS COISAS

E então, o mundo e seus amores vãos são feito brisa na madrugada, são folhas de outono esmaecidas ao sabor do vento, e tudo o mais é mera sombra, nada mais que uma leve miragem, ilusões desbotadas na alva neve branca da madrugada que nasce e renasce toda manhã. Não, não creia na eternidade daquele abraço, na efêmera felicidade que se derrama além de nossas veias, no pulsar violento e excitante de nosso coração, na eletricidade dos poros, da pele, da vida que se espalha muito além de nós, muito além de nossa razão, muito além de nós mesmos (e de nossos amores vãos).

E então seremos, nós dois, uma pequena parte do amor e de todas as coisas, com a única certeza de termos vivido, ainda que por breve espaço de tempo, ainda que por um instante fugaz, teremos vivido e sentido o gosto daquele beijo, o gosto daquela pele, o gosto novamente do amor e de todas as coisas, permanente e eterno nos vãos da nossa memória.

E então, o mundo e seus amores vãos são feito brisa na madrugada, folhas de outono esmaecidas ao sabor do vento...