Cabelos vermelhos e lápis de olho

Indo hoje para a estação de trem, vi uma garota que era a sua cara. Ao vê-la, pensei estar vendo você, e esse pensamento não se desfez mesmo depois de notar que os cabelos dela tinham ondas. Diferentes dos seus, que eram linda e artificialmente lisos. E ainda assim pensei que fosse você, numa fase nova, com um novo humor.

Sem contar que a cor era a mesma. O mesmo tom de vermelho que sempre me encheu de ciúme e desejo.

Ela não tinha suas tatuagens, e foi só ao notar isso que eu passei a acreditar que talvez ela não fosse você. E, ainda assim, por instantes, cheguei a culpar minha miopia, alegando a mim mesmo que as tatuagens estavam ali, sim, e eu apenas não as estava enxergando.

A verdade é que eu tinha tanto medo e tanta vontade que fosse você que me recusava a acreditar que aquela garota era tão parecida com você, sem ser você de fato.

De qualquer forma, isso não impediu que eu instantaneamente me apaixonasse por ela. Mas não sinta ciúmes, porque, ao me apaixonar por ela, eu estava, na verdade, me apaixonando por você. De novo.

Quando a perdi de vista, passei a imaginar quão bom seria estar com ela, sentir seu cheiro e provar o gosto da sua boca. Isso quando, no fundo, o que eu queria mesmo era provar de novo o seu abraço e o seu beijo. Com isso, pra que minha felicidade completa, seria necessário que ela fosse igual a você mesmo naquelas coisas que eu sempre achei que só encontraria em você e mais ninguém. E na minha paixão, eu acreditava que mesmo isso fosse possível.

Imaginei se ela também tinha o seu cheiro, e se o quarto dela também ficava com aquele cheiro que a gente deixava depois de uma tarde de janelas fechadas. E, por mais improvável que seja, até nisso eu cheguei a acreditar, num desespero próprio dos novos amantes.

Porém, como todas as outras depois de você, essa paixão não durou muito, e agora que estou no trem escrevendo tudo isso, todo o sentimento por ela já se esgotou, e eu voltei a te amar incondicionalmente. De novo.

E, ainda assim, enquanto escrevo, ainda duvido um pouco que não era você ali. Imagino que talvez você também estivesse me olhando, e até que talvez tenha se apaixonado por mim de novo.

E quem sabe agora você também esteja sentada em algum lugar, escrevendo sobre isso enquanto derrama uma lágrima pintada de preto por seu lápis de olho, que tanto me encheu de ciúme e desejo.

Slash
Enviado por Slash em 18/02/2009
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