"Quadro a Quadro"

Eu me espelhei em suas atitudes, eu me pronunciei através de suas palavras, sofri por suas dores mais profundas e isso só me fez sentir mais vazio por dentro, por fora e por todos os lados existentes neste polígono que chamamos de Vida, só me fizeram sentir por muito mais tempo esses dissabores proporcionais à minha existência: quanto mais vida, mais dor; Quanto mais dor, menos felicidade; Quanto menos felicidade, menos vontade de viver.

E porque isso? Chamam-me de "noturno" por algum motivo... Creio eu, mas ninguém, ninguém realmente sabe o verdadeiro motivo deu eu evitar os dias em suas primeiras horas... Persegui-me com esta questão, até que desisti, sem solução e sem êxito; desapontado sem a resposta de o porque o vazio me corrói em forma mais agressiva nas primeiras horas da manhã, das poucas vezes que me arrisquei a encará-las.

No olhar, um senso extinto de felicidade, facilmente visível uma dificuldade de concentração, do tipo: "Converse com uma parede e terá mais atenção". Sempre pensando, pensando em nada, no nada; realmente pensando no nada, o nada era tudo o que ocupava minha mente, dias e noites inteiras, o mesmo nada que poderia ser descrito em muitas palavras, palavras que se tornariam frases; frases que se tornariam questões; questões se tornariam frustrações; frustrações que por sua vez se tornariam angústia, angústia que por fim se tornaria em depressão profunda... Tão profunda quanto à felicidade que observo nos olhos de duas pessoas, duas crianças que vejo em um quadro aqui mesmo na sala de minha casa, nele está retratado um momento esplêndido de felicidade na vida dessas duas crianças, pelo menos é o que eu acho. No quadro está desenhado um pé solitário de maçãs em época de frutos mais abundantes, onde um garoto está pendurado a um galho e apenas estende a mão e apanha as maçãs mais belas que logo em seguida são arremessadas para uma garota que me parece ser sua irmã. No cenário que os rodeia, são visíveis várias outras árvores não-frutíferas mais ao fundo, um pequeno lago que é cortado por uma ponte meio que improvisada e mais atrás, meio solitária está uma pequena igreja cercada por campos e mais campos verdes de grama baixa que parecem estar molhados pela chuva serena que acabara de cair. Esse quadro eternizou aquele momento para aquelas duas crianças, o tempo parece ter parado e congelado naquele momento. É incrível a facilidade com que a felicidade se transmitia.

Foi perturbador como esse quadro retratou facilmente um dos meus anseios mais ambiciosos, "La felicidad", "Die Glück" ou "A Felicidade", como queira. Imaginei a facilidade com que o garoto apenas estendia a mão e apanhava o fruto tão desejado (a felicidade) e ao mesmo tempo o atirava para a menina que com os braços abertos apenas apanhava e abraçava os frutos mais bonitos (as boas lembranças) daquela estação. E o cenário que os rodeavam?! Como pôde transmitir tanta Paz? A mesma paz que tem um ritmo calmo e aconchegante e que ecoa por toda a minha alma cansada.

Quem sabe poderia eu me transportar para aquele quadro mesmo que em pensamento, para aquele momento e assim poder viver aquele instante de felicidade eternamente.

Andrey Teixeira 17/02/05