O REFÚGIO

Sim, você está comigo de um jeito absurdo, sem bagagem, surgido assim de um ponto qualquer da multidão... Você me abraçou tão forte mas minha pele escorregou sob tuas mãos enquanto a alma se esgueirava ficando a olhar de longe intocada. Ela aguarda um chamado especial, e pode ser uma simples modulação na tua voz que a acaricie e seduza, um silêncio repentino, um olhar das tuas profundezas revelando algum secreto fascínio. E pra mim não importa esse tal de tempo levando a gente ladeira abaixo, se tem futuro, se não tem ... Enquanto nossas órbitas se cruzam, nossos corpos querem estar a se tocar... somos crianças órfãs, livres das roupas. Sob as marcas do tempo em nossos rostos, sobrevivem sorrisos de tardes ensolaradas da infância. Um dia talvez, num momento de repentina calma entre folguedos, aconteça o abismo pra dentro do olhar, o espanto. Então a súbita constatação de nossos limites entrelaçados. Nessa hora o tempo pára todinho e nós a flutuar na imensidão desse sustenido que é um refúgio, um paraíso entre duas notas musicais ...

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 02/03/2009
Reeditado em 03/03/2009
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