Geléia de pérolas
Geléia de pérolas
14 de março, 1994 21 horas – calor
- oceano –
O meu mecenas morreu.
Se foi ele gordo, isso não sei.
Se bebia altas taças
de fina champagne,
também passo – pra sempre –
a desconhecer.
- pórtico –
Eu...poderia sido ter
um ajudante de pedreiro
e receber porco salário
e em porco ambiente viver,
e mesmo assim, ter uma
sensibilidade qualquer para escrever.
E eu guardaria os sacos de cimento vazios
e em seu verso, versos rimados fazendo iria.
Porco ambiente...
porca vida...
porcos poemas desesperados...
Mas meu mecenas não me achou
porque, claro, não o procurei.
E ele, procurou-me?
Desconhecerei para todo o sempre.
- jardim –
Então...lá se vão os balaios de papéis
com variados preenchimentos.
As ternuras e os ódios
e os filhos e suas mães.
Sim, vão-se os puritanos pensamentos
e os abobalhados sonhos.
Tudo vai, dio!
Dio mio, vai, e em cinza,
num dia de sol no outono
da vida de quem não poderei ver,
tornar-se-ão os papéis.
Junto da ossada do mecenas.