Trem das seis

Espremem-se

Acotovelam-se

Em busca de um lugar melhor

Se é que existe um

Na aglomeração

semblantes cansados

já não diferem

o caleidoscópio formado

pelas cores das roupas surradas

Não distingüem

odores, cheiros

Seguram-se nas barras

suportando os corpos exaustos

por mais uma jornada de trabalho

árdua.

Os de mais sorte

sentam-se, espremidos

cerrando os olhos

tentando vencer

o calor, o cansaço

escondendo-se na penumbra

das pápebras trêmulas

Dormem

Idosos ostentam

seus cabelos prateados

e as mãos calejadas

Crianças choram, vendem

apelando para a auto-comiseração

Adultos usam e abusam

da lei do mais forte

Olhos se encontram

cúmplices da sina diária

Sons se misturam

formando uma sinfonia agoniante

A cada estação

descem três e sobem dez

O espaço fica cada vez menor

O ar é rançoso

O vento que vem da janela

é preciosidade

e por isso

Espremem-se

Acotovelam-se

E a vida segue

no trilho do destino.