Ursinho de pelúcia viciado

Meu nome é Fofo. Sou um ursinho de pelúcia. Eu surgi no mundo a alguns anos. Quando dei por mim, já estava na casa de uma família esquisita, cheia de crianças esquisitas. E fui dado a eles justamente no natal, uma data que, me parece, serve para as pessoas darem presentes e para comerem uma espécie de galináceo gigante.

Andava por aquela casa à noite, sem rumo, bem devagar, para ninguém me ver, tentando entender o que eu estava fazendo alí, e qual era minha função no mundo. Não descobri. Apenas suspeito que eu e todos os meus iguais, servimos para aliviar os instintos sádicos das pessoas.

Sentia dores. Principalmente quando tentavam arrancar a minha perna. Mas minha pior experiência foi quando passei por uma "cirurgia" sem anestesia. Fui aberto nas costas, e tive parte do meu preenchimento retirado.

Tempos depois, uma senhora me preencheu novamente com espuma, e me costurou.

Posso dizer, que a raça humana, é muito estranha. Não tem compaixão. Tratam a nós, ursinhos de pelúcia, como objetos sem sentimento. E eu posso dizer que isso doi muito. Não é bom ser rejeitado. E foi justamente isso que aconteceu.

Numa manhã, fui levado junto com uma pilha de brinquedos idiotas, para um orfanato. Lá, fui parar nas mãos de uma menina com problemas mentais. Ela me arrancou a cabeça. Fiquei apavorado, quando vi meu corpo sendo chutado pelos outros garotos. Felizmente, novamente fui salvo e reconstruído.

Aí então, descobri uma coisa interessante. Quando andava a noite pelos corredores, descobri numa prateleira, umas capsulas cujo rótulo tinha uma tarja preta. Tomei uma, e logo as dores se foram. Podiam me arrebentar, que tudo estava bem.

Hoje, passados todos os anos, luto para acabar com esse vício. Não posso viver sem os tarja preta. E o pior, é que cada vez mais, tenho de tomar uma quantidade maior para aliviar minhas dores.

Agora, até que estou tranquilo. Vim parar na casa de uma senhora que coleciona brinquedos, e também viciada nesses remédios. Mas sei que isso me faz mal.

Por isso eu lanço o apelo: não maltratem os ursinhos de pelúcia. Eles têm sentimentos e podem se viciar em alguma droga.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 02/05/2006
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