Folha Amarga
Folha Amarga
23 02 89
‘Deixa o meu coração
Embriagar-se de um mito.
Perder-se em teu olhar
Este sonho infinito.
E dormir para sempre
À sombra de teus cílios.’
Baudelaire
Choro o insuportável tormento
de que um sol morre em mim.
Dizer-te adeus não posso, pois
foi-se o tempo de em mendigo
todo o meu ser tornar-se.
Espeto então, todos os pedacinhos
de desilusantes lembranças
e pelo noitero vento vão-se eles.
Lá longe, na capital
que para ti sonhas-te
encontrarás um dia
um pedacinho de teus gestos
que comigo guardado ficara.
Lenda! Tudo é uma lenda!
Tudo é o que devo esquecer.
Tudo é isso em mim cravo,
que em mim – com petulante
e insensível monstruosidade –
desejo que more e cresça.
Nenê meu, meu ursinho,
é um dia que poderia
a tua marrom pele branca
ter com cuidado tocado.
Esqueci? Por deus que
de querer tanto, até de fazê-lo perdi-me.
Em que árvore floresces?
Sei que de flor em flor
tu aos poucos feneces.
Que é feito de tuas roxas folhas?
De qual chá privei-me?
Mocinha amarga. Amargo amor.